Ao falar dessas meninas -
vultos ansiosos nas noites das esquinas
ou enclausuradas nos solares das cafetinas -
precisamos pedir desculpas
e antecipar o perdão.
Mártires turbinadas, serviçais amarguradas,
objetos, corpos-mídia de fantasias e taras;
entregam o corpo, fingem prazer,
enganam, se esquivam,
proporcionam o culpado gozo -
escondido, rápido,
muitas vezes criminoso -
cuja recompensa lhes permite sobreviver.
Ao falar dessas meninas -
interioranas ou citadinas,
quanse sempre apaixonadas
e de estranha auto-estima,
bonecas de carne e osso
entregues à própria sina -
revela-se a cínica hipocrisía
dos que lhes compram submissão,
sigilo de culpas,
performances múltiplas
e ao final, lhes chamam putas.
Ao falar dessas meninas -
com anúncios no jornal
elogiando seus corpos,
receptáculos sexual -
precisamos expor a covarde opinião:
-"São apenas prostitutas,
mulheres da vida,
ponto neutro na guerra social;
descartáveis - "Lavou tá novo" ;
desfrutáveis - "Dão prazer
sem causar mal" !
São baratas e não têm amparo legal;
simples produtos de consumo,
a mais velha profissão do mundo".
Ao falar dessas meninas -
que se oferecem, se dão -
há que se ter vergonha,
revolta, indignação,
para com a sociedade
que as usa, mantém e despreza,
apesar de ter sido ela
quem as levou à prostituição.
Ao falar dessas meninas
precisamos pedir desculpas
e antecipar o perdão.
Vitória-ES 03/2007